26 dias em Myanmar by Júlia Wypyszynski

A primeira pergunta que me fazem quando digo que fui ao Myanmar é “onde fica isso? ”. Myanmar, Burma, Birmânia ou Republica da União do Myanmar fica no sudoeste asiático e faz divisa com a Índia, Bangladesh, China, Tailândia e Laos. Myanmar é o maior país no sudoeste asiático em continente, dividido entre 14 estados seu tamanho é equivalente a Alemanha e Itália juntas. É um país que ficou isolado do resto do mundo por muito tempo por conta da ditadura militar. Isso acabou conservando suas belezas naturais e os corações bondosos das pessoas. Eu gostaria muito que através desse texto conseguisse expressar o quão maravilhoso e especial esse país é.

pagodas

Alguns fatos rapidinhos aqui antes de seguirmos viagem.

Turismo: em 1992, o governo começou a incentivar o turismo no país. Em 2012 “as portas se abriram para o mundo”, assim liberando o acesso de turistas para mais regiões. Mas, mesmo hoje em 2016, ainda há lugares que não se pode ir sem uma permissão especial (especialmente em zonas de conflito ao norte e no estado Shan, Golden triangle, na divisa entre: China, Laos e Tailândia).

Língua: a língua oficinal do Myanmar é Burmese, infelizmente não há muitas pessoas que falam inglês, o que dificulta bastante a comunicação.

Dinheiro: a moeda é Myanmar Kyats (1000 kyats são 0,77 dólares). Em algumas cidades grandes também é possível fazer pagamentos em dólar. Vale ressaltar que as notas de dólares têm de estar em perfeitas condições. É recomendável que você leve todo seu dinheiro em notas, pois há poucos caixas eletrônicos e 90% dos estabelecimentos não aceita cartões. Passagens de ônibus e voos domésticos têm que ser pagos em dinheiro vivo (voos podem ser comprados através de companhias de viagem ou hotéis, não tente comprar nada online, simplesmente não funciona).

Transporte: se locomover no Myanmar é uma roleta russa, você nunca sabe no que você estará andando, hahaha. Em cidades grandes você pode tranquilamente utilizar do transporte público, como ônibus, que custam 200 kyats (0,15 dolares) e são bem eficientes. Turistas não podem alugar carros no Myanmar, apenas motos elétricas, bicicletas elétricas e motocicletas, que só são permitidas em algumas cidades como Mandalay. Para se locomover entre cidades você pode utilizar do ônibus, trem, caminhãozinho (chamado de “ca-li”) ou vans. Fique ciente que as estradas são horríveis e geralmente as viagens são demoradas, se estiver com tempo curto há voos de Yangon para Bagan, Ngapali e Dawei…

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Comida: Myanmar é um país muito grande e carrega uma cultura gastronômica muito interessante. Cada estado tem seus pratos típicos, especialidades e influências da culinária indiana, chinesa e tailandesa. Os melhores estados para comer (em minha opinião) são Yangon, Rahkine e Shan.

Infelizmente, a higiene por lá não é das melhores, então fique ciente que há uma grande probabilidade de você ficar doente durante sua viagem, principalmente se estiver consumindo frango, frutos do mar e arroz. Eu fiquei 7 dias doente por conta de infecção alimentar.  Você não pode deixar de provar: salada de mamão verde (green papaya salad), salada de folhas de chá verde (green tea leave salad), curry de camarão sweet chilli (prawn sweet chilli curry), shan noodles, churrasquinho de rua e faloofa drink.

Salada de camarão
Salada de camarão
Churrasquinho de rua
Churrasquinho de rua

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Dicas sobrevivência: o garçom não está vindo? Sabe como se manda beijinho para cavalo andar? Pois é, é assim que se chama garçom no Myanmar. Sim… para nós ocidentais é algo rude, mas para eles é normal.

É normal ver pessoas mascando betle (folha e noz de uma certa árvore, com tabaco e sal). Você perceberá várias pessoas com os dentes vermelhos cuspindo no chão por consequência disso.

Se você pedir informação para alguém e a pessoa sacudir a mão como se fosse um “mais ou menos” isso significa não. É bem útil saber disso!

JAMAIS encoste em um monge (principalmente se você for mulher).

monges

Todos usam tanaka no rosto  (é o protetor solar natural deles feito através da mistura de uma madeira nativa com água).

Você precisa retirar visto para entrar no país, válido por apenas 28 dias. Permissões especiais devem ser solicitadas junto à embaixada antes de viajar (no país demora cerca de 10 dias).

Isso pode parecer estranho, mas você É diferente no Myanmar! Pode ser um dos motivos pelo qual todo mundo te trata bem, pois você é diferente. Fique preparado, pois há uma grande chance de pessoas pediram para tirar fotos com você na rua ou em vilas e remotas crianças curiosas ficarem em volta de você todo tempo!

Pagodas:

Pagodas são pequenos templos que foram construídas por fins religiosos budistas e podem ser encontrados em todo lugar no Myanmar. Dentro das pagodas é sempre possível se encontrar uma imagem de Buddha, algumas oferendas e jamais se deve entrar com sapatos dentro das pagodas.

Pessoas:

As pessoas no Myanmar são as MAIS LEGAIS DO MUNDO (sem exagero), todas querem te ajudar, te conhecer, estão sempre sorrindo e são extremamente humildes.

Agora, sim, vamos à viagem!

Yangon:

Chegando em Yangon você irá se perguntar “meu Deus, onde estou me metendo?”. O aeroporto é bem bagunçado e parece ter saído dos anos 60. O táxi entre o aeroporto e a cidade sai em torno de 8000 kyats. Em Yangon, fiquei hospedada em dois hostels diferentes; Three Seasons Hotel e Chan Myae Guest House, ambos com ótimos preços, internet, boa localidade, água quente, ar condicionado e cama LIMPA… luxo! Geralmente os hotéis vão segurar seu passaporte durante sua estadia por conta do controle do governo, por isso é sempre bom ter algumas cópias extras durante a viagem. Pode-se caminhar tranquilamente por toda Yangon que não há perigo, locomoção na cidade é tranquila e pode ser com ônibus, táxi ou trem.

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Não há vida noturna como no ocidente. A maioria dos lugares fecham a meia noite, deixando como opção apenas sentar em cadeirinhas de plástico perto do cordão da calçada e beber chá verde com alho. Esse é o programa de sábado à noite dos jovens locais.

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Em Yangon, há varias pontos turísticos, mas eu realmente recomendo conhecer: Shwedagon Pagoda, Kandawgyi Lake, Chauk Htat Gyi Pagoda (Buda reclinado), China Town, e claro, caminhar e explorar a cidade ao máximo. Bateu a fome? Você TEM que ir ao Minn Lan Restaurant, eles servem frutos do mar frescos (retirados direto dos tanques de água) preparados estilo Rahkine. É simplesmente incrível. Outro lugar interessante para se comer é Flavour of Myanmar Buffet e a noite vale a pena uma visita ao bar Vista, que tem vista para o Shwedagon Pagoda de um terraço. Três noites em Yangon são suficientes.

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Shwedagon Pagoda
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Shwedagon Pagoda
Tanque de frutos do mar no Minn Lan Restaurant
Tanque de frutos do mar no Minn Lan Restaurant

Gwa /Kanthaya:

De Yangon para Gwa você vai precisar pegar um ônibus, a passagem pode ser comprada em frente a estação de trem principal. Gwa é uma vila de pescadores com uma praia paradisíaca onde não há internet e luz das 16h às 23h. Há apenas duas  guest house na vila, mas recomendo ficar na Royal Rose Guest House, na qual não há água quente, nem ar condicionado. Não, ninguém fala muito inglês por lá, porém as pessoas são extremante incríveis.

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De Gwa para Kanthaya você precisa de uma carona de um local ou achar alguém que te alugue uma moto. A estrada de acesso é bem ruim mas vale a pena. Kanthaya é simplesmente incrível e há mais opções de restaurantes por lá, porem a único guest house está fechada para reforma até março 2016. De Gwa para Ngapali, há um ônibus que sai as 6h da manhã que vai parar em Thadnwe e de lá você precisa pegar um táxi ate Ngapali (é bem pertinho) OUUUUU você pode pegar o caminhãozinho que sai as 8h da manhã! Eu totalmente recomendo pegar o caminhãozinho, são 8h no tranco, mas você conhece vários locais, para em várias vilas pequenas para descanso e há uma grande chance de seu caminhãozinho ter que parar para carregar com sacos de arroz. Isso significa que metade de viagem você vai ir sentado/deitado em sacos de arroz o que é bem confortável… Confesso que escorreu uma lágrima na hora de dar tchau para Gwa, foi o melhor da minha viagem pelo Myanmar. Duas a três noites em Gwa são suficientes.

Kanthaya
Kanthaya
Kanthaya
Kanthaya

Ngapali:

Ngapali é a cidade de praia mais turística do Myanmar. Infelizmente, a praia não é tão linda como Gwa e Kanthaya mas é mais desenvolvida em relação a restaurantes, resorts e atividades (mergulho, pesca, etc). Recomendo se hospedar no Memento Resort, é beira- mar com preço acessível e o proprietário é local (assim você ajuda pessoas locais e não businessman chinês ou italiano). Você pode facilmente pegar um táxi e ir a Thadnwe para conhecer a cidade, ver o street market e passear. Caso quiser evitar a longa viagem via estrada, há voos diretos de Yangon para Ngapali. Três noites em Ngapali são ideais.

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Bagan:

Para  entrar em Bagan, tem que pagar uma taxa de 20 dólares na entrada da cidade por conta da preservação do parque arqueológico. Bagan é incrível. Há em torno de 2000 pagodas em Old Bagan que você pode explorar à vontade e escalar a sua pagoda favorita para o pôr do sol! Recomendo dormir em Nyaung- U, onde se tem os preços mais acessíveis e é onde o pessoal mais jovem fica. New Bagan é a parte nova da cidade construída para os turistas, e consequentemente mais caro. É incrível poder explorar as pagodas sem restrição alguma, porem um cuidado é necessário: ao subir nas pagodas pode se facilmente cair ou ficar trancado nas escadas internas. Se você acha que você não passa/vai, não arrisque. O acesso a essas pagodas é difícil, e ligar para a emergência de la é praticamente impossível. Provavelmente nos próximos anos haverá acesso restrito para as pagodas, que além dos acidentes há muita erosão das construções por causa das “escaladas”. De Bagan a Mandalay pode se pegar um ônibus que busca você no seu hotel/hostel e deixa você em seu destino em Mandalay.

Pagodas
Pagodas

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Pyin Oo Lyin/ Kyaukme /Hsipaw:

Para ter acesso a essas cidades, você ou terá que ir de táxi, ônibus, trem ou alugar uma moto em Mandalay. Pyin Oo Lyin é bem charmosa e tem grandes jardins botânicos da época da colonização. Em Kayukme não se tem muito para fazer além das trilhas e passear pela cidade. Pergunte onde você pode comer o melhor shan noodle, é em um restaurantinho pequeno azul… Você não se arrependerá! Em Hsipaw há bastante coisa para fazer, ali pode-se ficar entre duas e três noites. Ah: não esqueça de pegar o trem de volta por Hsipaw para Mandalay, a vista é incrível!

Shan noodles
Shan noodles
Shan noodles
Shan noodles

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Nanshan:

Ok, o quão aventureiro você é? Se a resposta for MUITO, você pode arriscar ir para Nanshan, como eu fiz. Namshan é a capital do estado de Shan e esta localizada nas montanhas. O acesso até la é difícil, tem que se pegar um táxi, ônibus ou moto de Hsipaw. Para ir a Nanshan você precisa de uma permissão especial,  para poder ficar pela cidade tranquilamente e até mesmo para poder dormir por lá. A cidade é incrível e tem uma vista maravilhosa para as montanhas, as pessoas são muito hospitaleiras e é muito difícil  ver turistas. Em Nanshan recomendo ficar em um hotel chamado Green Tea Hotel que pertence a um general local. Por causa da guerra civil,  pode-se ver vários soldados fazendo patrulha e sentir uma certa tensão no ar, mas, felizmente,  não há conflitos dentro da cidade. Bom, dia seguinte caminhando pela vila a emigração me achou e como eu não tinha permissão eles me escoltaram para fora da cidade. Chegando de volta a Hsipaw fiquei sabendo de dois rapazes que foram parados pela polícia a caminho de Nanshan nesse mesmo dia e foram “ameaçados” com armas de fogos e tiveram que dar meia volta, também sobre uma menina que foi presa em uma vila ali perto por estar em uma zona de conflito sem permissão.

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Dawei:

Para chegar em Dawei você deve pegar ou um voo ou ônibus de Yangon. Dawei é uma cidade bem bonitinha e organizada que fica perto de Maungmagan Beach e de várias outras praias paradisíacas. Maungmagan é uma ótima opção para a noite, tem vários bares e restaurantes à beira-mar e normalmente os hotéis tem transfers para la. Para explorar as praias isoladas informe-se sobre ônibus que param nas vilas perto das praias e prepare-se para uma boa caminhada.  Para realmente aproveitar Dawei e as belezas naturais em volta três noites são ideais.

juliaby Júlia Wypyszynski

Júlia é gaúcha e formada em hotelaria. Atualmente trabalha como chef em um restaurante de Belfast, na Irlanda do Norte.

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