Um passeio pela história de Israel – by Júlia Lewgoy

“Welcome home” foi o que me disse um funcionário da imigração do aeroporto Ben Gurion, ao entrar em Israel. Ganhei a viagem como um presente e fui sem muitas pretensões. Apesar dos conflitos de um país em guerra, encontrei um povo com a cabeça aberta em busca de entendimento, o mundo inteiro alimentando sua fé no mesmo lugar e paisagens desérticas de tirar o fôlego. Uma gente ousada em suas invenções exportadas para o planeta e uma Tel Aviv vibrante me surpreenderam.

Israel fez eu me despir de preconceitos, me ensinou sobre democracia e humanidade e me mostrou que mesmo ateus podem ter fé, seja na paz, na ciência, nas pessoas. Desde o aeroporto em Tel Aviv, a capital financeira e a segunda maior cidade do país, me senti bem recebida por uma terra tão disputada na História e especial para cristãos, muçulmanos e judeus.

13.-Yafo

Durante a viagem, não refiz os passos de Jesus ou Maomé, pois fui levada junto a um grupo de turismo judaico para jovens. Sei que é possível explorar muitas esferas de um mesmo país e conhecer Israel diferente em cada viagem, mas descobri que uma delas, em comum entre todos, pode não ter nada a ver com religião. Tem a ver com liberdade, tecnologia, história, espiritualidade, bem além da discórdia e do conservadorismo presentes no senso comum quando se fala em Israel.

Embarquei em janeiro, em pleno inverno no país asiático costeiro ao Mar Mediterrâneo. Durante dez dias, percorri de ônibus boa parte do país, pouco menor que o estado de Sergipe em área. O frio, apesar de gelado em alguns lugares, era seco. Eu e meu grupo andávamos o tempo inteiro com garrafinha de água em mãos. A temperatura, no entanto, variava bastante.­ Jerusalém, por exemplo, era mais fria do que Tel Aviv. Deu até para mergulhar nas águas salgadas do Mar Morto, com a vontade maior do que a sensação de frio.

30.-Mar-Morto

Única democracia do Oriente Médio, Israel é um país jovem, criado em 1948 para se tornar a casa dos judeus, espalhados pelo mundo por quase dois mil anos depois de serem expulsos pelos romanos. Entre os israelenses, no entanto, além da maioria judia, há também árabescristãos árabes, beduínos e outras minorias, como drusos e samaritanos. O Estado é uma república parlamentar definida como “judia democrática”, o que significa que todos podem integrar o Knesset, parlamento israelense, e há três línguas oficiais no país: hebraico, árabe e inglês.

É importante conhecer essa realidade para compreender Israel como viajante. Independente de discórdias e de extremistas de todos os lados, há cidadãos israelenses judeus, árabes e de outras etnias com laços fortes no país e esperança de paz. Por isso, senti que a áurea desse território é de busca de aceitação do outro e de convívio com as diferenças, mesmo com jovens do exército armados por todo lugar.

Nossa viagem começou pela fronteira com o Líbano, ao norte do país, onde está uma formação geológica chamada Rosh HaNikra. São grutas surgidas naturalmente pela erosão das rochas em contato com o mar, que originaram uma paisagem impressionante ­ para dizer o mínimo.

Fronteira com o Líbano
Fronteira com o Líbano
2.-Fronteira-com-o-Líbano
Fronteira com o Líbano
1.-Rosh-HaNikra
Rosh HaNikra

Seguimos para a cidade portuária de Haifa, onde fica o templo de outra religião: a baha ́i. Monoteísta como o judaísmo, o islamismo e o cristianismo e fundada na Pérsia, sua fé diz que toda a humanidade foi criada de forma igual e que, por isso, a diversidade deve ser aceita. O santuário do profeta Bahá’u’lláh é composto por jardins (e que jardins!)­ que se tornaram ponto turístico.

Ao sul de Haifa está o povoado de Zichron Ya’acov, um dos primeiros assentamentos judaicos em Israel, fundado em 1882. As ruas são pavimentadas com pedras e há casas reconstruídas como as originais, inclusive abrigando museus, o que torna o lugar pitoresco. Há também pequenos cafés e restaurantes charmosos, com vinho produzido na região, além de arte (muita arte, para a minha alegria!)­ em lojinhas, galerias e oficinas de artistas locais. Outra pequena cidade mística é Tzfat, a mais alta da Galileia, que concentra uma grande quantidade de judeus religiosos e se mantém como o símbolo da Cabala, o misticismo judaico.

Tzfat
Tzfat
Tzfat
Tzfat
Tzfat
Tzfat
Tzfat
Tzfat

Por todo o país, é comum cruzar com oliveiras, a árvore da vida, que originam os deliciosos azeites e azeitonas. Algumas delas podem ter mais de 2500 anos de idade em Israel.

7.-Oliveira

Na estrada, em frente à imensidão do Mar da Galileia, paramos para contemplar a vista do lago de água doce mais famoso da bíblia. De uma margem à outra, são mais de 15 quilômetros, e foi à beira dele que Jesus começou a pregar.

11.-Mar-da-Galileia

Como em muitos lugares em Israel, ao chegar em Yafo, uma das mais antigas cidades do mundo, a história de cristãos, árabes e judeus está viva no mesmo lugar. Incorporada à Tel Aviv, Yafo pode ser narrada de três pontos de vista, mas hoje é sobretudo judaica. O lugar é interessante pela sua atmosfera antiga entre vielas e colinas à beira mar, e pelos artistas que escolheram ali como sua moradia.

12.-Yafo

Bem ao lado está Tel Aviv, com sua atmosfera vibrante, jovem e alegre. À beira do Mar Mediterrâneo, Tel Aviv concentra arquitetura de vanguarda, a bolsa de valores de Israel, centros de ciência e desenvolvimento, arte que não acaba mais, vida noturna, uma das maiores comunidades gays do mundo e gente do planeta inteiro. Cansou só de ler? Então deu pra sentir o que é Tel Aviv.

14.-Tel-Aviv

Em outro ritmo e atmosfera está outra das mais antigas cidades do mundo, Jerusalém, a mais populosa de Israel, capital do país e sagrada para judeus, muçulmanos e cristãos. Destruída mais de uma vez e atacada outras tantas, a parte conhecida como Cidade Velha traz paz de espírito e inspira fé. Passei a maior parte do tempo ouvindo o silêncio no Muro das Lamentações, que me trouxe dor e esperança, mas acho que o sentido de Jerusalém é muito particular para cada um que passa por lá.

15.-Jerusalém

19.-Jerusalém

23.-Jerusalém

Muro das Lamentações
Muro das Lamentações
Muro das Lamentações
Muro das Lamentações

Também foi em Jerusalém que visitei o Museu de Israel, onde tem de história judaica à arte moderna ­ e vi um por do sol de encher o olho de lágrima de tão bonito, através da escultura Ahavá, que significa amor em hebraico. Outro museu imperdível é o Yad Vashem, o Museu da História do Holocausto, pela necessidade de jamais esquecer o que ele lembra, para que esse horror da história não se repita.

Ahavá, no Museu de Israel
Ahavá, no Museu de Israel

No shuk do bairro árabe, típico mercado, me diverti atrás de tecidos, acessórios, arte e todas as bugigangas imagináveis. Ah, e esqueci de dizer que não se recusa frutas secas e sucos naturais de frutas como romã e laranja em Israel ­(dificilmente você vai encontrá-los tão gostosos em outro lugar). Aliás, o país faz milagres em produzir frutas e verduras fresquíssimas, lindas e deliciosas em clima desértico. Eu e meu grupo visitamos uma fazenda de orgânicos onde encontramos todos os tipos de tomates já vistos no Brasil, reunidos em seu lugar de origem, Israel.

21.-Frutas-secas

Sobre a comida, se prepare para encontrar tomate, azeitonas e pepino em exaustão, além muito falafel (bolinhos fritos de grão de bico), shawarma de cordeiro (tipo um churrasco grego no pão sírio) e humus (pasta de grão de bico). Até na tenda beduína, no deserto, tinha humus, pepino e azeitonas, além de frango, milho e arroz para comer com as mãos.

Tenda beduína
Tenda beduína

24.-Comida-na-tenda-beduína

Essa foi a parte mais diferente e divertida da viagem. Os beduínos, povo árabe habitante do deserto, estão costumados a receber turistas para passar a noite em suas tendas. Dormimos todos juntos em sacos no chão e, naquela noite, o improvável aconteceu: choveu no deserto. O dia seguinte também não foi menos emocionante. Andamos de camelo uns atrás dos outros, liderados por um beduíno. Ufa, tudo certo!

Deserto
Deserto

27.-Deserto

As emoções não acabaram aí. Fizemos uma trilha para subir até Massada, uma fortaleza natural terrosa, com penhascos íngremes. O local é um antigo forte da Judeia, famoso pelo nascer do sol deslumbrante.

28.-Massada

29.-Massada

Valeu pela experiência. Nem parece que foi uma viagem só. Israel me encantou pela sua diversidade, história e respeito às diferenças. Mas tenho a impressão de que ainda será preciso voltar amadurecida, para olhar tudo de um jeito diferente e renovar a fé na humanidade.

juliaBy Júlia Lewgoy

Júlia Lewgoy é gaúcha, jornalista e apreciadora de todos os tipos de gente. Por isso, não recusa um convite para viajar, mas ama seu país, o Brasil.

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