“De volta para o passado” – Havana, Cuba – Dica Spice Up

Se existisse uma máquina do tempo que nos levasse ao passado, eu provavelmente visitaria Nova York nos anos 70 para pirar em um show do Velvet Underground no CBGB, tentar fazer amizade com David Byrne, do Talking Heads ou, quem sabe, voltar até os anos 60 e me hospedar no Chelsea Hotel, só para cruzar com o Bob Dylan pelos corredores. Mas já que a tecnologia não é tão avançada a ponto de proporcionar tamanha satisfação, o passado pode ser visitado de outra forma. É possível retroceder cerca de 60 anos a partir de um voo da Copa Airlines, por exemplo. Ah, Cuba! O choque de realidade no país dos Castro já começa no Aeroporto José Martí, na capital Havana. Não há ar condicionado no desembarque, o lugar é infestado de moscas e nos guichês de imigração os computadores são tão antigos, que talvez a geração Y desconheça os modelos (isso, pelo menos até 2012, época que estive lá).

cuba2_dicaspiceup

Tudo, ou quase tudo ao redor dos cerca de 111 km2 de ilha é peculiar aos nossos olhos. Os carros norte-americanos dos anos 40 e 50, conhecidos dos cubanos como “Almendrones” são o atrativo túrístico mais clichê do país, mesmo assim um fenômeno. Ir a Cuba e não andar em um desses é uma heresia. Basta esticar o braço e fazer sinal, já que grande parte deles são taxis privados. Peça para dar uma voltinha no Malecón, a orla marítima de Havana. Sentir aquela brisa caribenha não tem preço. Só não esqueça de fazer o mesmo percuso a pé. O calçadão fica lotado no fim da tarde, tomado por cubanos e turistas de diversos cantos do mundo.

cuba4_dicaspiceup cuba3_dicaspiceup

Para fazer mais uma viagem ao passado dentro da capital, não deixe de conhecer Havana Velha. Vale explorar cada quarteirão. Lá você vai encontrar os principais pontos turísticos, e também  prédios de diversas influências arquitetônicas, como os do período colonial – muito anteriores à revolução cubana. Todos continuam de pé e, a maioria, depois de ganhar uma reforma, parece bem preservada. Durante o dia, vale a pena dar uma boa caminhada na Calle Obispo, começando pelo Capitólio (inspirado no Capitólio americano em Washington, é praticamente igual). Nesta rua você encontra lojas, artesanatos, livrarias (livros em Cuba são absurdamente baratos), farmácias, tudo à moda Cubana. A única recomendação é ficar de olho nos gaiatos. Muito difícil ocorrerem assaltos. Como o código penal é muito rígido, os cubanos preferem ficar longe da criminalidade. Mas sempre tem um espertinho tentando arrancar dinheiro de turista.

cuba5_dicaspiceup

Na Calle Obispo, você vai passar pelo Hotel Ambos Mundos. A quem interessar possa, este é o hotel que o escritor americano Ernest Hemingway passou os primeiros meses, dos 21 anos que viveu em Cuba. No quarto 551, ele teria escrito os primeiros capítulos do livro “Por quem os sinos dobram”, nos anos 30. Visite o terraço. Tem uma vista linda para a Plaza de Armas – onde Havana foi fundada em 1519 – e também para o Castillo del Morro, uma fortaleza construída pelo Império espanhol para proteger a região.

cuba6_dicaspiceup cuba7_dicaspiceup

Para continuar seguindo os passos do Prêmio Nobel de literatura, volte a Havana Velha à noite, e vá até o bar La Bodeguita del Medio. Hemingway passava horas naquele lugar bebendo Mojito (Coquetel típico. A receita leva limão, hortelã, açúcar, água com gás e, claro, rum),  uma delícia.

Para comer em Havana Velha, recomendo os peculiares “paladares”. São restaurantes familiares, acomodados nas salas das residências. Esses estabelecimentos existem desde antes da revolução, mas de forma clandestina. Após a queda da União Soviética, e consequentemente a crise no país de Fidel, o governo se viu obrigado a fazer algumas reformas econômicas, entre elas legalizar este tipo de atividade. Frutos do mar não faltam em Cuba. Para acompanhar peça abacate, lascas de banana frita e arroz “moros y cristianos” (feijão e arroz misturados, bem sequinho. Mais uma delícia).

cuba8_dicaspiceup

Museus

Pode parecer loucura, mas uma das coisas que mais me chamou a atenção em Cuba foi a arte. Talvez pela política repressora, muitos tendem a extravasar de alguma forma. Como o país não dá muitas opções o jeito é canalizar liberando a veia artísca. Ou não. Vai saber?!? De qualquer forma, difícil passar por alguma esquina em Havana que não tenha um vendedor ambulante expondo suas telas, feitas com alguma espécie de tinta guache. Mas tem também diversas galerias com arte contemporânea. O que nunca imaginaria ver em um lugar que mais parece um antiquário.  Cuba tem grandes artistas plásticos. Indico o Museu Nacional de Bellas Artes. Com um patrimônio artístico de cerca de 45 mil peças, é um dos mais importantes da América Latina.

cuba10_dicaspiceup

Viaje também pelo acervo revolucionário. Outro museu que é muito interessante conhecer é o Museu da Revolução. O local, preserva fotos, documentos, uniformes e armas usadas pelos revolucionários. E conta de forma didática como o grupo composto por Fidel Castro, Che Guevara, Camilo Cienfuegos e outros,  conseguiu derrubar Fulgencio Batista, tomar o poder no dia primeiro de janeiro de 1959 e, com um empurrãozinho da ex-União Soviética, implementar o socialismo no país.

cuba8_dicaspiceup cuba9_dicaspiceup

Desde então, Fidel Castro parece ter envelhecido junto com suas ideias e princípios idealistas. Para a alegria dos turistas em busca do “exótico”. Mas vá antes que seja tarde. Enquanto o socialismo sucumbe, o capitalismo selvagem, aos poucos, invade a ilha pelos flancos. Quando isso acontecer, a peculiar Cuba jamais será a mesma. Poucos “almendrones” ficarão para contar a história.

 

 

gabriellabordasch

By Gabriella Bordasch

“Sou jornalista e estive em Cuba para estudar Documentário na Escuela Internacional de Cine y Televisión. O trabalho dos meus sonhos vai ser aquele que eu possa viajar o mundo e ainda ganhar dinheiro com isso. Não há nada que me deixe mais motivada do que pesquisar destinos e organizar roteiros. E, de preferência, com muita aventura.”

5 Comentários

  1. Parabéns pelo texto, mas sinceramente não tenho interesse de ir a Cuba, todo esse charme em função da defasagem de Cuba em relação ao mundo existe a custa de muito sofrimento daquele povo. É como prender animais selvagens em zoológicos só para que as pessoas possam admirá-los perto dos centros urbanos. A corja de Fidel, Che e outros ditos heróis da revolução enriqueceu enquanto deixaram uma geração de pessoas á margem da evolução social, democracia entre muitas outras faltas…

Leave a Response

EN PT