Viajando em duas rodas – Lá Vai Ela

Motoneta, lambreta, motinha, scooter ou Vespa. Eu sempre sonhei em voar as tranças em uma dessas, vermelha. Mas por motivos culturais e sociais – que qualquer menina da minha idade deve conhecer – minha infância foi marcada por Barbies que dirigiam carros rosas e vidrada na Penélope Charmosa passando na tv. Assim, ao fazer 18 anos, fui conduzida à carteira de motorista tipo B, a de quatro pneus mesmo (mas calma, a carteira tipo A ainda vem, para desespero do meu pai).  Pois bem, a paixão já existia, então foi só eu pisar em Roma pela primeira vez para sentir meu sangue italiano vibrando com a multidão de motocas em meio ao caos urbano.

Crédito Foto: g1.globo.com
Crédito Foto: g1.globo.com

Que felicidade ver que sim, é possível e muito prático se locomover de moto em países habituados com essa mistura, sem que esses condutores carreguem necessariamente o estigma de ‘perigosos’ e ‘imprudentes’. Existe um código tácito de respeito e tolerância, mesmo com tanta bagunça. Simplesmente é mais fácil e muito barato comprar uma 125cc e ser feliz por lá. E foi passeando e fazendo turismo nos vilarejos mais inóspitos que comecei a vislumbrar meus dias de dona de uma Harley com uma jaqueta de couro linda e, no máximo, uma mochila nas costas. Eis que, algum tempo depois, me vi na garupa, cabelos completamente emaranhados ao vento, descendo as curvas da Costa Amalfitana com a certeza de que vivia um filme.

Crédito Foto: flickr:teto13vk
Crédito Foto: flickr:teto13vk

O fato é que existem lugares que se adaptam perfeitamente às motos. Aliás, alguns só podem ser explorados assim., quando os carros são proibidos. A própria Itália é um prato cheio: ladeiras, ruelas muito apertadas e localidades nem tão grandes e nem tão pequenas. O mar que banha Amalfi, Capri e Sorrento e os penhascos da região praticamente exigem um transporte que se adapte à vista deslumbrante. Isso vale também para grande parte das Ilhas Gregas, principalmente Santorini, e também a Croácia e as cidadelas muradas. As agitadas Ilhas Baleares, como Ibiza (que o diga a dona desse blog), que foi feita para ser descoberta bem devagarinho, praia por praia, com a companhia perfeita e uma motocicleta charmosa.

Itália, Grécia e Croácia - MSC Musica 2009 112

Itália, Grécia e Croácia - MSC Musica 2009 127

Porém, não só com charme se dirige: é preciso ter alguma noção de equilíbrio para que a viagem não se transforme num pesadelo, com ossos quebrados e queimadura de cano de descarga (presente!). Na maioria das vezes, ao menos na Europa, existem pequenas locadoras em que nenhuma habilitação específica é exigida. Em todo o caso, viajar com a permissão internacional (aquela que é feita aqui mesmo, no Denatran) e a CNH brasileira original é indispensável.  Capacete, nem preciso dizer, sempre – até de presente já dei. Mas ainda acho que a maior dica pra quem quer rodar o mundo assim é, antes de qualquer coisa, redescobrir sua cidade em duas rodas. Passeios noturnos, as mesmas ruas de todo dia com uma nova cara, uma falsa sensação de liberdade e uma cintura para se segurar devem deixar todo mundo pronto e animado para encarar novos destinos, de um novo jeito.

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By Marcella Lorenzon

Tags : Lá Vai Ela

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